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Treinamento Funcional – Método ou Loucura?

Por Marcus Lima em 09 de abril de 2014

Mais um artigo que segue com o mesmo tema levantado no artigo anterior, que foi  o primeiro deste espaço (Treinamento Físico Funcional – Parte 1). Sim, o tema é batido, mas como há tanta confusão em relação a ele achamos que cairia bem, especialmente neste canal de informações que está nos seus primeiros passos.

Desta vez, recebo uma bela contribuição da minha amiga Lara Félix de Porto Alegre, traduzindo este artigo de Vern Gambetta, preparador físico norte-americano, considerado um dos pais do Treinamento Funcional (inclusive sendo citado como tal no artigo que mencionei logo acima). Achei interessante ver como pensa um dos caras que é considerado por todos no mercado norteamericano como um dos pais desta onda toda do “Treinamento Funcional” que alcançou o mundo inteiro. Creio que os leitores acharão interessante também. Obrigado pela contribuição Lara.

Boa leitura aos amigos.

 

Treinamento Funcional – Método ou Loucura? – Parte 1

Vern Gambetta

 

Sou considerado o pai do treinamento funcional para esportes e, por isso, acredito ser o momento de rever o conceito para melhor entendê-lo. De onde veio, como evoluiu, onde está hoje e para onde está indo.

O treinamento funcional traz consigo um rótulo. E como qualquer rótulo, está sujeito a variadas interpretações. Eu, originalmente, o considerava como um tipo de treinamento multilateral integrando diversas ferramentas (medicine balls, elásticos, anilhas, peso do corpo, etc.) para produzir uma adaptação significativa em parâmetros específicos de performance.

Treina todos os sistemas do corpo ao mesmo tempo em que reconhece e respeita a sabedoria do mesmo. O resultado final é um atleta altamente adaptado que é capaz de atuar sem limitações no âmbito competitivo. Contraste isso a um tipo de treinamento tendencioso, limitado, que resulta em atletas adaptados, mas inconsistentes na performance e propensos a lesões.

Para mim, os conceitos se juntaram e se solidificaram no fim dos anos 80. Eu estava alarmado com este treinamento tendencioso e limitado que estava sendo imposto a atletas. Estávamos presos a uma abordagem reducionista e mecânica que segmentava o corpo em partes e sistemas separados. Estávamos criando atletas robóticos que eram bons em um ambiente estéril de treinamento, mas tinham dificuldade de transferir isso para o esporte. Era também claro que, se você está fazendo muito de uma coisa, então provavelmente você está fazendo pouco de outra, o que resultava em pouco ou nenhum ganho real. O resultado era um atleta completamente adaptado àquele único componente do treinamento.

Para crescer na performance é preciso exatamente o oposto disso, um atleta versátil e altamente adaptável, cujo treino não é tendencioso, mas reflete a demanda do esporte e as necessidades individuais do atleta. O problema era a falha em reconhecer que, para o corpo executar um movimento, seja ele de longa duração, explosivo ou mesmo um gesto motor refinado, todos os sistemas e partes do corpo precisam trabalhar juntos e em harmonia.

O movimento é uma sinfonia, não um solo. Você não pode executar um treino “cardio” isoladamente, assim como você não pode executar um treino do sistema nervoso isoladamente. É melhor pensar que todo o treino tem um componente cardiovascular, assim como um componente neural envolvidos, porque todos os sistemas do corpo trabalham o tempo todo, com a demanda maior de algum deles em específico, dependendo da intensidade da atividade.

Para continuar na metáfora sinfônica, uma seção da orquestra é destacada enquanto as outras seções ainda estão tocando, mas como música de fundo. Vamos também dar crédito ao condutor, o cérebro; os músculos e todos os sistemas do corpo são escravos do cérebro. É ele que dirige, conecta e controla movimentos para possibilitar-nos realizar a tarefa desejada. Utilizando o termo de Tim Noakes (N.T: Professor e pesquisador sul-africano), o cérebro é “o governador central”. Então não podemos perder de vista o todo para entender as partes.

O treinamento funcional foi evoluindo para dar ao corpo o real crédito pela sua sabedoria e habilidade de ligar, sincronizar, conectar e coordenar para poder “tocar” uma bonita sinfonia de movimento a qual chamamos de performance esportiva.

Na época, eu já trabalhava como treinador há mais ou menos vinte anos e já tinha sido exposto a muitas ideias e métodos de treinamento, alguns funcionaram e alguns fracassaram.  Eu já estava em um estágio da minha carreira em que pensava que deveria haver um jeito melhor de fazer as coisas. Dei-me conta de que esse jeito seria optar por uma abordagem eclética que combinasse minha interpretação das pesquisas na área da ciência do esporte e estudos sobre métodos e conceitos de reabilitação, combinados com minha experiência prática como treinador e atleta.

Alguém rotulou como “treinamento funcional” e o nome pegou; para mim é somente o “treinamento do senso comum”.


Confira a parte 2: Treinamento Funcional – Método ou Loucura- Parte 2.

 

Aos que quiserem ler na versão original aí vai o link: Functional Training – Method or Madness?

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