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Treinamento Funcional – Método ou Loucura? – Parte 3

Por Marcus Lima em 22 de abril de 2014

Fechando o artigo traduzido pela minha amiga Lara Félix.

Aos que não leram as partes anteriores:

Boa leitura a todos.

 

Treinamento Funcional – Método ou Loucura? – Parte 3

Vern Gambetta

 

Todo o movimento é funcional; o que varia é até que ponto. Função é o movimento integrado e multi-direcional. Movimento funcional é um movimento significativo que é parte de uma reação em cadeia, não um evento isolado. O movimento ocorre em um continuum de função. Alguns movimentos são mais funcionais do que outros com base no objetivo final do treinamento.

Menos funcional >>>>>>>>>>> Mais funcional

Artificial                                             Real

Função não-real                             Função real

1          2          3          4          5              6          7          8          9          10

 

Para determinar a colocação no continuum da função existem critérios básicos de avaliação:


Plano (s) de movimento
 – Se o movimento envolve vários planos de movimento, em oposição ao movimento em apenas um plano, então ele é mais funcional.

Envolvimento de articulações – Se o movimento envolve várias articulações ao contrário do isolamento de apenas uma, então é mais funcional.

A velocidade do movimento – Se a velocidade e o ritmo do movimento é tão rápido quanto pode ser controlada, então é maior no continuum da função.

Demanda proprioceptiva – Se o movimento requer alta demanda proprioceptiva, então é maior no continuum da função.

Consciente – Se o movimento é consciente, exige atenção e concentração, então é maior no continuum da função, ao invés de se colocar a mente no “piloto automático” e não ter que se concentrar durante a execução.

 

Olhe cuidadosamente para o movimento. Quais são as forças envolvidas? Qual é o plano de movimento dominante? O movimento acontece em todos os três planos de movimento simultaneamente? Sagital, frontal e transverso. Caso seja, é importante treiná-lo nos três planos. É essencial entender os movimentos para, a partir disso, desenhar um programa de treinamento coerente.

A performance esportiva, independente do esporte em questão, é uma atividade multidimensional. Acontece em um ambiente dinâmico que faz com que o movimento ocorra em todos os planos, utilizando múltiplas articulações para produzir a mecânica de movimento desejada. A performance envolve toda a cadeia cinética para produzir e reduzir força. Esse processo assegura o controle neuromuscular e a eficiência do movimento.

O movimento é um evento complexo que envolve sinergistas, estabilizadores, neutralizadores e antagonistas, todos trabalhando juntos para reproduzir movimentos triplanares eficientes. Portanto, o fundamento básico do treinamento funcional é treinar movimentos e não músculos.

O cientista esportivo Roger Enoka coloca de maneira melhor:

“A função de um músculo depende do contexto em que está sendo ativado”.

Movimentos diferentes utilizam os músculos de formas diferentes. Os músculos são escravos do cérebro. Ele não reconhece os músculos individual e isoladamente; ao contrário, reconhece padrões de movimento que respondem a um estímulo sensorial.

O Sistema Nervoso Central é a estação de comando que controla e direciona todo o movimento. O Sistema Nervoso Central pede por padrões de movimento que podem ser modificados de incontáveis maneiras para reagir apropriadamente à gravidade, às forças de reação do solo e à aceleração. Cada atividade é sujeita a posteriores refinamentos e ajustes através do retorno de informação (N.T: se preferirem o termo em inglês, muito usado por aqui: Feedback) dos proprioceptores. Esse processo assegura controle neuromuscular otimizado e eficiência de função.

O treinamento funcional não trabalha com força mensurável. Quanto você consegue levantar de peso ou quantos quilogramas-força você atinge em um dinamômetro são números sem significado. Ao invés disso, a qualidade do movimento, o ritmo, a sincronia e as conexões são o que realmente importa.

O objetivo final é sempre a habilidade de aplicar a força que será desenvolvida dentro da performance esportiva de fato. Como a força é expressa? Você consegue produzir e reduzir a força? A produção de força é a aceleração, mas frequentemente a chave para a eficiência do movimento e para ficar livre de lesões é a habilidade de desacelerar e estabilizar, para que o corpo esteja bem posicionado e realize o movimento desejado. Um bom programa de treinamento funcional saberá equilibrar produção e redução de força, bem como a estabilização. O resultado final é força funcional.

Ao longo dos anos, desenvolvi princípios básicos para guiar o treinamento.

 

Estes são os princípios fundamentais do treinamento funcional para esportes. Use-os como guia e você terá resultados consistentes:

 

Desenvolvimento atlético funcional – Princípio 1: Treine movimentos e não músculos.

Desenvolvimento atlético funcional – Princípio 2: Alinhamento postural dinâmico e equilíbrio dinâmico são os fundamentos para todo o treinamento.

Desenvolvimento atlético funcional – Princípio 3: Treine habilidades fundamentais do movimento antes de habilidades esportivas específicas.

Desenvolvimento atlético funcional – Princípio 4: Treine a força central (core) antes das extremidades.

Desenvolvimento atlético funcional – Princípio 5: Treine com o peso corporal antes de colocar uma resistência externa.

Desenvolvimento atlético funcional – Princípio 6: Treine a integridade da articulação antes de sua mobilidade.

Desenvolvimento atlético funcional – Princípio 7: Treine força antes de “endurance” de força (N.T: força sustentada por um longo período. O termo poderia ser trocado por “resistência” de força) e potência antes de “endurance” de potência (N.T: potência sustentada por um longo período).

Desenvolvimento atlético funcional – Princípio 8: Treine velocidade antes de “endurance” de velocidade.

Desenvolvimento atlético funcional – Princípio 9: Treine para construir a capacidade de trabalho apropriada ao seu esporte ou evento.

Desenvolvimento atlético funcional – Princípio 10: Treine apropriadamente ao seu esporte – você é o que você treina para ser.

O corpo é incrivelmente inteligente e sabe se auto-organizar, possibilitando a maravilhosa habilidade de adaptação a radicais extremos em termos de ambiente e a agentes estressores que são a ele impostos.

Olhe em volta e veja o movimento com olhos diferentes. Reconhecer que o corpo humano é inteligente, abrirá uma nova visão sobe treinamento e reabilitação. Não há limites para sua imaginação e criatividade como treinador, professor ou especialista em reabilitação. Procure por possibilidades, não por limitações e por disfunções; dê ao corpo o crédito pela sua sabedoria, para então treinar e reabilitar. Aproveite o processo e maravilhe-se com as descobertas.

Entender e aplicar uma abordagem funcional ao treinamento é um processo desafiador. É, frequentemente, contrária à sabedoria convencional apresentada pelas correntes que dominam a pesquisa dentro da ciência do esporte.

Para poder andar para frente, isso não pode nos limitar. Precisamos utilizar a sabedoria convencional como um ponto de partida e andar para frente, pensando e agindo muito além disso. Siga seus instintos e permita que sua criatividade se expresse através do movimento. Siga o caminho funcional para uma performance melhor.

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