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Quando em dúvida, pense em força e condicionamento físico!

Por Marcus Lima em 31 de outubro de 2014

Artigo do já bem conhecido Mike Boyle, fazendo uma reflexão acerca de nosso papel primordial enquanto professores de educação física que é: Trabalhar força e condicionamento físico. E do quão frequentemente nos sentimos perdidos devido a quantidade esmagadora de informação que existe por ai.

Vale a conferida.

 

Quando em dúvida, pense em força e condicionamento físico!

Mike Boyle

 

Somos chamados de preparadores físicos por uma razão (N.T: O termo que o Boyle usa é “Strength and Conditioning Coach”, numa tradução literal ficaria: Treinador de Força e Condicionamento. Como soa esquisito em português, usei o que acredito que mais se assemelha que é preparador físico). Jamais gostei do termo especialista em performance ou qualquer outro dos nomes extravagantes que existem hoje em dia. Eu gosto de ser um preparador físico.

Frequentemente encontro jovens preparadores que estão entre confusos e sobrecarregados. Pré-habilitação, mobilidade, ativações, elasticidade, sistemas de desenvolvimento energético…isso tudo pode sobrecarregar qualquer um. Muitas coisas a fazer, muito pouco tempo. Como fazer para que caiba tudo?

Muitos desses jovens começam a desenvolver programas de treinamento que focam nas pequenas coisas, mas eles frequentemente esquecem as coisas principais. Isso é como aumentar a velocidade do seu Fiat Uno 1.0 para correr as 500 milhas de Indianápolis. Sem potência…..sem troféu.

 

Fui visitado por um ex-atleta meu dia desses, hoje em dia ele é preparador físico em uma escola de ensino médio. Ele tinha montes de perguntas:

O que fazemos para avaliação?

Minha resposta foi “quando em dúvida pense em força e condicionamento físico”.

O que fazemos em termos de exercícios corretivos?

Minha resposta foi “quando em dúvida pense em força e condicionamento físico”.

O que fazemos para trabalhar a base aeróbica ou treinamento de potência cardíaca?

Minha resposta pela terceira vez foi “quando em dúvida pense em força e condicionamento físico”.

Enquanto escutava suas perguntas, pensei que talvez ele estivesse sofrendo de um caso de overdose de internet. Qual o antídoto para isso? Eu prescreveria uma grande dose de simplicidade.

Enquanto continuávamos a conversar, a mesma resposta continuava  a me vir a cabeça. “Quando em dúvida pense em força e condicionamento físico”. Quando avaliar seus programas, pergunte a si mesmo (estou fazendo um bom trabalho na força e no condicionamento físico?”). Se pergunte por que você foi contratado.

Lembre-se, a mais simples e fundamental parte do nosso trabalho é tornar as pessoas mais fortes. Podemos debater a definição de “mais forte”, podemos debater quais exercícios precisamos para sermos mais fortes, mas não podemos debater a ideia de que um atleta mais forte geralmente é um atleta melhor, particularmente em seus primeiros anos.

Não consigo lembrar de quantas vezes eu tenho escrito a palavra KISS em resposta a uma questão online. KISS é um acrônimo para Keep It Simple Stupid (N.T: Em português, “Mantenha Simples Idiota”). Existem 2 coisas que todos sabemos que sempre funciona, ser mais forte e estar em melhor condição física.

No meu segundo livro (N.T: Designing Resistance Strength Training Programs and Facilities. Ao se tornar membro do site do Mike Boyle, o ótimo www.strengthcoach.com ganha-se o direito de baixar esse livro grátis, junto com seu outro livro: Advances in Functional Training) eu escrevi que um treino ruim bem executado é muito melhor do que um bom treino mal executado.

Nos dias atuais, eu me encontro constantemente simplificando, me tornando mais básico. Meus treinos provavelmente parecem piores para um olhar de fora. Eu tento pegar os exercícios mais simples, que são fáceis de ensinar a um grande grupo de atletas inexperientes ou tento pensar em melhores formas para ensinar exercícios mais complicados para estes mesmos atletas inexperientes.

Existem exercícios mágicos como goblet squats (N.T: goblet é taça ou cálice, seria agachamento taça uma tradução literal, eu chamo de agachamento goblet ou goblet squat mesmo) e levantamentos terra unilaterais alcançando (N.T: o nome original que o Boyle usa é: reaching straight leg deadlifts) que tornam as coisas mais fáceis mas, frequentemente nos esforçamos para tornar as coisas mais complicadas ao invés de torná-las mais simples.

(N.T: abaixo vídeos dos 2 exercícios: Goblet Squat e Terra unilateral – alcançando).

Enquanto luto com as mesmas questões que o meu jovem amigo preparador físico me perguntou, continuo voltando ao “quando em dúvida pense em força e condicionamento físico”. Nada funciona melhor do que tornar os atletas mais fortes e em melhor forma física.

Atletas precisam levantar cargas progressivamente maiores com uma técnica que melhora progressivamente.

Querem uma fórmula simples? Eles precisam aumentar a carga em 2kg por semana e manter a técnica perfeita. Eles precisam pular sobre ou em coisas, dar sprints e fazer corridas intervaladas. Nada extravagante, apenas um processo simples. Não precisamos mandar a bola para fora do estádio a cada vez que rebatemos uma bola de beisebol, precisamos apenas acertar a bola e alcançar a base.

Isso me recorda uma frase do grande Dan John (N.T: Um preparador físico de Utah que desfruta de bastante prestígio lá nos Estados Unidos): “O objetivo é fazer do objetivo manter o objetivo” (N.T: Na tradução se perde bastante, a frase original é: The goal is to keep the goal the goal. Mas em essência quer dizer que nunca devemos perder de vista o que realmente importa). Gosto muito desse processo de pensamento, por ser muito simples. Não perca seus objetivos de vista. Não somos fisioterapeutas, mas ajudamos a reduzir o risco de lesões. Não somos especialistas em exercícios corretivos ainda que frequentemente possamos fazer com que as pessoas se sintam melhor. Somos preparadores físicos. Ao começarmos a tirar o olho da bola, precisamos pensar “força e condicionamento físico”.

Se está confuso em relação ao seu treino de força, use está dica: Empurre, puxe e faça alguma coisa para as pernas. Se está confuso a respeito de condicionamento físico, tente isto: faça 10 minutos de intervalos e me ligue na manhã seguinte. Confuso a respeito de progressões? Adicione algum peso aos exercícios, adicione um intervalo a mais. É simples assim.

 

Se alguém me dissesse que iria fazer o que se segue eu ficaria empolgado:

Supino: 3x 5 reps.

Barra (pegada pronada): 3x 8 reps (com peso se possível).

Agachamento unilateral com suporte: 3x 8 reps cada perna.

Levantamento terra unilateral: 3x 8 reps cada perna.

Rollouts na bola suíça: 3x 20 reps.

 

Este pequeno circuito pode durar uma vida inteira. Termine com alguns intervalos de 30 segundos do seu método de escolha e terá um grande programa de treino. Slides, bicicletas, corridas, remadas, etc.? Não importa, apenas faça com intensidade.

Eu sei, eu sei, e quanto ao aquecimento, alongamento, etc. etc… Escute, se você tem mais tempo, faça mais, mas se está confuso ou pressionado pelo tempo, volte aos básicos e pense em força e condicionamento físico. Adoraria que pudesse fazer autoliberação miofascial por 5 a 10 minutos, alongamentos por 5 minutos e então um aquecimento dinâmico, mas sei que o que rende mais dividendos vem de se tornar mais forte e em melhor forma física.


Artigo Original: When In Doubt, Think Strength and Conditioning.

3 Comentários

  • Avatar Marcus Lima disse:

    Olha aí Clery Quinhones de Lima, já estou espalhando o nome “Profissional de Educação Física”.

  • Marcelo Sant'Anna Marcelo Sant'Anna disse:

    Ótimo texto Marcão!! Muito bom o comentário dele! Pois nos leva a refletir que também estão (norte-americanos) recebendo inúmeras informações de qualidade do movimento, preocupações com mobilidade/estabilidade, FMS, terapias manuais, etc, etc, enfim, ferramentas para melhorarmos, além do condicionamento físico, a qualidade do movimento dos nossos clientes.Para alguns profissionais, isto até pode levar a uma certa “angustia” (“mal estar”), em razão desta busca incessante e por ter que ir atrás de todos estes conhecimentos que nós da Educação Física, em razão dos currículos das Instituições de ensino, não estávamos acostumados. Também estamos sentindo isto no Brasil e nos faz refletir muito. Minha posição é de que, antes de sermos preparadores físicos, estamos num contexto bem maior… SOMOS AGENTES DE SAÚDE. Pensando nisso, assim como acontece para outros profissionais também da área saúde, onde a busca pela informação interdisciplinar é permanente e que, de forma alguma, se restringe somente ao que é dado nos bancos universitários, começamos a entrar num novo olhar. A interdisciplinariedade está aí, bem presente. As necessidades das pessoas vão se modificando. A ciência vai sofrendo mudanças e novos conhecimentos vão agregando às nossas ações. Sendo assim, acredito que esta seja a reflexão. de que não podemos mais aceitar os mesmos conhecimentos e disciplinas que já estão nas faculdades de Educação física a mais de 30 anos. Caramba, muita coisa já mudou. Pensar somente no “feijão-com-arroz”…de treinar as qualidades físicas, não se permite mais. Além disso, será que pensando somente no treinamento físico (destas qualidades físicas) conseguimos atender às reais necessidades da população? Será que a razão deste tal “treinamento funcional” não foi criar uma reflexão não apenas no treinamento de força em si, mas na atenção da função do corpo? Sinceramente, tenho as minhas dúvidas se hoje temos que simplesmente inserir peso, séries, repetições nas pessoas sem antes pensarmos na qualidade do movimento, sem identificarmos as restrições de movimento, questionarmos se a pessoa sente dor ou não, e acaso afirmativo, o porquê. Na perspectiva do mestre (e filósofo) Gray Cook, acho que isto vem em primeiro lugar. Será sempre mais cômodo pensarmos em primeiro lugar o treinamento da força, mas será que isto é o mais importante? Caramba, isto dá uma discussão grande. Tudo culpa tua Marcus Lima. Abração.

    • Avatar Marcus Lima disse:

      Te vira para descobrir Marcelão hehehe. Imagino que estamos seguindo o caminho que mencionaste na tua argumentação, ter outras preocupações além das capacidades físicas, mas sem ignorá-las (pois são parte inerente do processo) e sem cair na onda de ficar fazendo “frufrus” com borrachinha e bosu.

Instituto Fortius