Ícone de fechar

Complexo Abdominal

Por Marcus Lima em 02 de dezembro de 2014

Mais um artigo do Chuck Wolf, da Human Motion Associates da Flórida, falando a respeito de anatomia funcional, neste o tema é a função do complexo abdominal.

Acredito ser de importância fundamental compreendermos cada vez mais os diferentes papéis desempenhados pelos músculos, suas localizações e conexões e como mudam as relações de acordo com o tipo de movimento desempenhado.

Podemos não concordar com os métodos do Chuck, ou com os métodos de qualquer outro profissional, contanto que entendamos os princípios. Assim como em outros artigos que adaptei da autoria dele, esse se concentra no papel do complexo abdominal durante a marcha humana, creio que acharão interessante. Essas ideias originalmente vêm de outro americano, Gary Gray.

 

Complexo Abdominal

Chuck Wolf

 

Ah os abdominais, o abdominal “tanquinho”, centenas de repetições deitado de barriga para cima.

Me lembro do meu tempo de “academia da era paleolítica”, instruindo meus clientes a deitar de barriga para cima, pés em um banco para posicionar os joelhos e quadris em 90º e levar o tronco na direção de um dos joelhos. Estávamos “isolando” os oblíquos. Estou certo de que podemos relacionar a forma com que cada um de nós usa para isolarmos os abdominais, a fim de satisfazer as vontades de nossos clientes, mas não estamos necessariamente satisfazendo suas necessidades.

Se os abdominais fizessem o que os antigos livros de anatomia e cinesiologia nos dizem, a maioria das pessoas se moveria como Frankenstein….dominantes no plano sagital.

Demos um passo atrás por um momento e revisemos onde o complexo abdominal se insere, para que possamos entender melhor suas verdadeiras funções. O complexo abdominal consiste do reto abdominal, inserindo na crista púbica e da 5ª à 7ª cartilagem costal e no processo xifóide. De acordo com os livros tradicionais, o reto abdominal faz a flexão da coluna e retroversão pélvica.

O oblíquo externo tem inserções nas 8 últimas costelas, na aponeurose abdominal e crista ilíaca anterior. De acordo com os livros tradicionais, eles assistem na flexão da coluna e retroversão pélvica (N.T: Ação bilateral) e na rotação da coluna (N.T: agindo em conjunto com o oblíquo interno do lado oposto).

Os oblíquos internos se inserem na crista ilíaca, ligamento inguinal e fáscia toracolombar. Eles inserem na linha alba, crista púbica e nas 3 últimas costelas.

O último músculo de todo complexo é o transverso abdominal. Se insere na fáscia toracolombar, cartilagem das últimas 6 costelas e na crista ilíaca. Insere ainda na parte posterior da linha alba e crista púbica.

 

Os livros de anatomia discutem cada um deles em separado, o que é necessário. No entanto, quando consideramos a ação integrada dos abdominais, existem alguns conceitos unificados que indicam a sinergia entre estas estruturas:

  • Todas as estruturas se inserem nas costelas.
  • Todas as estruturas se inserem no quadril.
  • Todas as estruturas se inserem uma na outra.

Com estes conceitos unificados em mente, o tecido abdominal pode trabalhar de maneira sinérgica através de suas conexões fasciais assim como nas estruturas ósseas. Portanto, considerando o alinhamento fibroso de cada tecido, o complexo abdominal trabalha nos 3 planos de movimento, não apenas em 1.

Na verdade, durante o ciclo normal da marcha, os quadris fazem a rotação em uma direção, enquanto o gradil costal roda para o lado oposto, uma vez que os abdominais são mais eficientes e potentes quando operam no plano transverso.

Um último ponto a ser considerado, uma vez que os quadris e a coluna torácica estão conectados às estruturas abdominais, podemos pensar como as extremidades superiores e inferiores afetam o complexo abdominal. Quando a quadril estende, os abdominais são recrutados para contrair de maneira excêntrica para assistir na sua desaceleração (N.T: Representado na figura abaixo). A função do quadril é grandemente impactada pela função do pé e da dorsiflexão do tornozelo, portanto, precisamos nos assegurar que existe movimento adequado nessas estruturas.

Retirado de “Insights Into Functional Training” – Chuck Wolf (2017)

A cintura escapular tem muitas implicações sobre a coluna torácica e também afeta o complexo abdominal. Durante o ciclo da marcha, quando o ombro estende, acaba impactando a coluna torácica no plano transverso, o que reativamente faz com que o complexo abdominal contraia excentricamente para desacelerar sua extensão.

Com essas ações, assim como em qualquer outro movimento no corpo, os abdominais agem como uma unidade central para assistir ao controle dos movimentos (N.T: Abaixo uma representação do movimento recíproco da pelve e tronco, que requer que os abdominais desacelerem esse movimento no plano transverso. Figura adaptada de “Born to Walk: Myofascial Efficiency and the Body in Movement” – James Earls, 2014).

 

Função dos Músculos Abdominais

 

 

 

Assistam os vídeos sobre a “Função Abdominal”, “Estabilização do Core” e por fim, o vídeo que fala sobre “Progressões de Exercícios Abdominais”.

 

Função Abdominal:

(N.T: Nesse primeiro vídeo, ele aborda novamente o que foi falado no artigo, descrevendo a função do complexo abdominal nos 3 planos de movimento, enquanto o cidadão realiza uma caminhada com movimentos exagerados).

 

Progressões para Estabilização do Núcleo:

(N.T: Nesse 2º vídeo, Chuck mostra uma série de variações de movimentos tridimensionais, usando o peso corporal, medicine balls, cabos, halteres, vipr, aquele tubo com lugares para pegada, sandbell, um saco de areia de pesos variados. Usando muitas inclinações e rotações à fim de desafiar a ação de freio e controle do complexo abdominal).

 

Estudo de Caso:

(N.T: Nesse último, ele demonstra uma progressão que pode ser feita, ao longo de 8 semanas, com os respectivos objetivos de cada fase. Ele enfatiza bastante nas progressões a exploração do movimentos nos outros 2 planos: frontal e especialmente o transverso, já que grande parte dos exercícios que usamos são basicamente dominantes de plano sagital).


A planificação é a seguinte:

Semanas 1 – 2:
– Aumentar a força da Unidade Central (core) de maneira isolada.
– Consciência corporal.

Semanas 2 – 4:
– Ganhar mobilidade nos planos frontal e transverso.
– Mobilizar o complexo pé/tornozelo e o quadril através dos padrões de movimento.

Semanas 5 – 6:
– Ganhar mobilidade nos 3 planos, especialmente nos quadris e coluna torácica.
– Ganho de força de maneira integrada.

Semanas 7 – 8:
– Melhorar amplitude de movimento, especialmente através da rotação (plano transverso) dos quadris e coluna torácica.
– Iniciar atividades para voltar a jogar (N.T: Se o cliente pratica algum esporte).

 


Link do artigo original: Abdominal Complex: Not a 6 pack, More Like a Whole Keg.

N.T: Uma curiosidade a respeito do título original do artigo, o que aqui no Brasil chamamos de “tanquinho” referindo-se à um abdominal definido os americanos chamam de “6 pack” numa tradução livre “pacote ou fardo de 6”. Esse é o mesmo termo que eles usam para um fardo de 6 latas de cerveja, aqui no RS chamamos de “fardinho” de latas de cerveja. “Keg” significa “barril”, o autor faz a analogia de que o abdome seria mais como um barril. A tradução livre do artigo ficaria “Complexo Abdominal: Não um fardinho de 6, Mais como um Barril Inteiro”. 

Instituto Fortius